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eu presido a todos os enganos os do céu os da terra há tantos anos que nem o tempo os lembra antes do mar fui voo antes do sal fui mar e sede antes da água fresca antes do verso eu fui a poesia eu sou antes de Deus e do universo estando antes eu nunca fui ontem e sendo a tudo preso nunca fui refém nem de mim mesmo porque a minha fome não tem distância horizonte não tem nome sempre que me contam sou inumerável sempre que me caçam sou invulnerável eu nunca estou no pé e nunca estou no passo a minha dimensão é outra sou o compasso cósmico a que palpitam todas as galáxias e a que se geram flores nos ramos das acácias não fui planeado nem projecto não sou vontade nas letras de prisão lêem-me liberdade não a minha a tua a deles ou a de todos eu sou a liberdade do desejo do desejo dos lodos e das aves dos rios dos homens e mulheres de todo o espaço de todas as coisas de todos os seres por isso eu presido a todos os enganos os do céu os da terra há tantos anos que nem o tempo os lembra sou a razão de todas as derrotas o coração da mágoa as mãos do desespero eu sempre estou e permaneço e espero desde o caos e canto o refazer do desejo na sua liberdade como lábios no beijo em mim tudo recomeça grão a grão ponto a ponto peça a peça mão a mão sol a sol segundo a segundo porque comigo recomeça o mundo até que tudo seja o que não vejo até que o mundo seja o do desejo . |