{2.9.06 . confissão}

eu presido a todos os enganos
os do céu os da terra há tantos anos
que nem o tempo os lembra
antes do mar fui voo
antes do sal fui mar
e sede antes da água fresca
antes do verso eu fui a poesia
eu sou antes de Deus e do universo
estando antes eu nunca fui ontem
e sendo a tudo preso nunca fui refém
nem de mim mesmo porque a minha fome
não tem distância horizonte não tem nome
sempre que me contam sou inumerável
sempre que me caçam sou invulnerável
eu nunca estou no pé e nunca estou no passo
a minha dimensão é outra sou o compasso
cósmico a que palpitam todas as galáxias
e a que se geram flores nos ramos das acácias
não fui planeado nem projecto
não sou vontade
nas letras de prisão lêem-me liberdade
não a minha a tua a deles ou a de todos
eu sou a liberdade do desejo
do desejo dos lodos
e das aves dos rios
dos homens e mulheres
de todo o espaço de todas as coisas
de todos os seres
por isso eu presido a todos os enganos
os do céu os da terra há tantos anos
que nem o tempo os lembra
sou a razão de todas as derrotas
o coração da mágoa as mãos do desespero
eu sempre estou e permaneço
e espero desde o caos
e canto o refazer do desejo
na sua liberdade
como lábios no beijo
em mim tudo recomeça
grão a grão
ponto a ponto
peça a peça
mão a mão
sol a sol
segundo a segundo
porque comigo recomeça o mundo
até que tudo seja o que não vejo
até que o mundo seja o do desejo


str8splash blogged on 2.9.06

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O que uma pessoa faz para ser original! Paciência.







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