{26.8.05 . sós: sos}

Conhecem aquela canção dos Beatles chamada Eleanor Rigby... («Oh, look at all the lonely people!...»), sobre uma mulher que se põe à janela, à espera de um amor que nunca vem. Hoje acordei ao som dela e lembrei-me de uma mulher tão solitária que ainda não sabe se ressona. Veio-me imediatamente à ideia aquela definição de "sozinho". Ei-la: « em má companhia»!
Li algures num romance qualquer, que agora nem consigo precisar bem o título nem o autor, umas linhas que me ficaram na memória. É qualquer coisa do género:

« (...) fiz aquilo que só as pessoas novas conseguem fazer, ou seja, senti pena de mim. Depois dos trinta perdemos essa capacidade; em vez de sentirmos pena de nós, tornamo-nos amargos (...)»

Será verdade? Estaremos condenados a ficar cada vez mais sós?


str8splash blogged on 26.8.05

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{16.8.05 . a arte de ter inimigos}

Pois é, desde pequeninos que nos andam sempre a dizer que o importante é saber fazer amigos. Está bem, lição aprendida, mas o que ninguém nos ensina é a fazer inimigos, e muito menos a viver com eles. E, no entanto, os heróis são sempre aqueles que sabem dar o murro no momento certo. E consta que não perdem o sono por isso.

«Apoiaremos tudo a que o inimigo se oponha, e faremos oposição a tudo o que o inimigo apoie.»
Mao-Tse-Tung

«Nunca interrompa um inimigo quando o apanhar a cometer um erro.»
Napoleão

Há assim uns cromos invejáveis no mundo dos ódios. Se é daqueles que davam tudo para ser capaz de dizer umas verdades ao “colega” que aproveita todas as ocasiões para o humilhar, é natural que lhe apeteça aparecer amanhã no trabalho de camisa de gola chinesa ou de chapéu em bico e mão enfiada entre os botões da farda escura. Mas para se ser um Mao-Tse-Tung ou um Napoleão é preciso comer muita sopa. Deste clube fazem parte os irredutíveis, os que conseguem matar em vida, apagando das suas agendas e do seu coração a existência daqueles que não consideram dignos da sua cordialidade. Embora não pareçam perturbados com tudo isto, acabam por fazer desconfiar que não engoliram bem o inimigo, de tanta obcessão, de tanta procura de mais histórias ou pormenores que contribuam para afundar a reputação do odiado. É como se justificassem a si mesmos a atitude tomada. Habitualmente, estes “odiadores” compulsivos coleccionam inimigos, ou vão substituindo um ódio de estimação por outro, ostentando um talento natural para cultivar conflitos. São apologistas do «quem não está comigo está contra mim», reunindo nas suas fileiras outros fanáticos como eles ou gente que não tem coragem para lhes fazer frente.
O diagnóstico clínico aponta para uma insegurança mascarada, mas os que não suportam o ódio alheio podem aprender algumas coisinhas com eles, que a lição não lhes fará mal nenhum. Nomeadamente (nham nham…) a sonhar com o dia em que possam aplicar sem remorsos o provérbio persa que aconselha a que se «use a mão do inimigo para apanhar uma cobra».

«Não te alegres com a queda do teu inimigo, mas também não corras a levantá-lo.»
Provérbio Judeu

Estes são os mais sábios de todos no mundo dos inimigos. São aqueles que embora façam tudo para não criar inimizades, procurando centrar sempre as disputas no tema e não na pessoa em si, têm perfeita consciência de que há situações intransponíveis e loucos, ou egocêntricos, com quem não é possível pactuar. Têm um mínimo de inimigos, mas acreditam que é difícil viver e não criar inimizades. Sabem que o mundo dá muitas voltas e que aquilo que hoje é a preto e branco amanhã estará pintado em tons de cinzento, mas têm, apesar disso, a lucidez de saber que há escolhas urgentes e fundamentais. E que acatar com as consequências dessas opções, sem lamechices nem lamúrias, faz parte da vida.
Não são possuídos pelo inimigo, na medida em que não passam 24 horas do dia a inventar planos de vingança ou sequer a pensar neles, mas não esquecem as histórias passadas, e crêem sinceramente que «mais vale só que mal acompanhado».
Se um dia o outro se aproximar, ouvem o que tem para dizer, e não aparentam uma dificuldade de maior em adoptar o lema de que «águas passadas não movem moinhos». Se o agora candidato a ex-inimigo fizer o mesmo, bem entendido.

«Quando não temos um inimigo dentro de nós, os inimigos exteriores não nos atingem.»
Provérbio Africano

Aqueles que não suportam a ideia de serem detestados por uma única pessoa entre biliões têm mesmo o inimigo dentro de si! São aqueles que davam tudo por uma oportunidade de conquistar o opositor para o seu lado, de o converter à sua causa, de o levar a ser…seu amigo. Mesmo que repitam a si mesmos que tiveram toda a razão em mandar o tipo à merda, em dar coices e reivindicar direitos, em assumir o fim da opressão e a obrigatoriedade de que respeitem a sua dignidade, a verdade é que não se sentem bem consigo mesmos. No fundo, no fundo, não acreditam nas suas razões. Pudera, durante anos foi-lhes dito que são sempre precisos dois para fazer uma guerra, e embora puxem pela cabeça e não se lembrem de qual pode ter sido a sua quota-parte de responsabilidade no conflito, continuam a sentir-se culpados.
Mesmo quando o mundo inteiro os consola e justifica, dão por si a rezar novamente o rosário das culpas: terão dado todas as oportunidades? Não terão sido demasiado intolerantes nem demasiado vaidosos? Tiveram a humildade de pedir desculpa? Poderiam ter encontrado outra forma de evitar a ruptura final? As contas do rosário são às centenas, e no final tudo começa de novo, porque cada resposta é ruminada, dando origem a uma nova pergunta, numa cansativa tentativa de encontrar a paz.
Não gostam de se imaginar bananas, daqueles que apanham na escolinha, nas reuniões ou em casa, e sabem que são capazes de defender as suas causas, custe o que custar, e até podem andar à chapada no calor do momento, mas o que lhes é difícil é aguentar depois aquela imagem de um «alguém», algures que não lhes perdoa. Que não o vê, como ele se vê a si próprio, e que é capaz, inclusivamente, de espalhar essa má opinião pelos outros, multiplicando assim os seus inimigos.
Por vezes a sua boa vontade conciliadora acaba mesmo por derreter corações empedernidos, mas na maior parte dos casos faz figuras tristes ao tentar arrebatar a amizade de alguém que, decididamente não lha quer dar (e que, e ele admite-o, tem o direito de não a dar). O pior de tudo é que um temente de inimigos assim, é uma presa fácil nas mãos de um inimigo inteligente, que saiba utilizar contra ele estas fraquezas.

«Se conheces o inimigo e te conheces a ti mesmo, não precisas de temer o resultado de cem batalhas. Se te conheces a ti mesmo, mas não conheces o inimigo, para cada vitória arrebatada haverá uma derrota. Se não te conheces nem a ti, nem a ele, sucumbirás a cada confronto.»
Sun Tzu

Porque é que há pessoas que «têm o inimigo dentro de si»? O que é que as faz vacilar constantemente perante os outros?
Estes aparentes «bonzinhos», de coração de ouro e sentimentos puros, são na realidade pessoas assustadas, de tal modo condicionadas a pôr os interesses dos outros em primeiro lugar ( tudo começa com os pais), sentindo que essa é a forma de não perder o amor e o respeito dos outros. Vivem aterrorizados com a ideia de fazer escolhas e assumir consequências dos seus actos. Ao esquecimento de si mesmo, saudável e que traz consigo a capacidade de se colocar no lugar do outro, contrapuseram uma versão quase doente de altruísmo. Saltitam em cima dos seus desejos e vontades, como se não fossem legítimos, como se tivessem de ser submetidos a um poder superior, que pertence invariavelmente aos outros.
Quando perdem a cabeça e deixam vir ao de cima a sua raiva contida, sentem depois a necessidade de se vergastarem em conformidade, desfazendo-se em desculpas e justificações.
Aquele que tem medo do ódio alheio, e do seu, não se sente seguro de amor nenhum. Por isso, o segredo para readquirir a sua integridade é ser capaz de amar e ser amado, dizem os ensinamentos budistas a todos que tenham o mínimo de bom senso. Porque, quando alguém gosta de si mesmo a sério, quando tem consciência do seu valor, é capaz de aguentar as inimizades e os inimigos. Percebe que por muitas voltas que dê às histórias, há de facto gente que não é capaz de vir ao seu encontro, gente que não tem forma de estabelecer pontes, gente de quem é preciso desistir. Desistir de conquistar, de fazer ver o seu ponto de vista, de mudar.
Se pertence à última categoria, talvez lhe saiba bem ouvir que o segredo está em perceber que foi o outro que se quis afastar de si e não o contrário. Ou seja, que este estado de coisas é obra de apenas um dos lados, e que é mentira, é mentira que uma batalha tenha de ter sempre dois exércitos.
Podemos sempre aprender com os nossos inimigos: é que quando temos a certeza de que detestamos as opções dos outros, a forma como se comportam e lidam com quem os rodeia, sabemos com ainda mais certeza aquilo que somos e aquilo que queremos. Vejam como o mundo ficou baralhado com a queda do muro de Berlim, e como reage assustado a um inimigo que ataca pelas costas, nos corredores de uma estação de metro, e não dá a cara! E como face a atentados terroristas, soubemos os valores que estavam em risco e que não queríamos perder.
É evidente que quem diz o que pensa a alguém deste tipo não pode ficar à espera de uma autocrítica imediata, seguida de um pedido de desculpas e já agora um agradecimento, «obrigado, graças a ti descobri que sou realmente um ogre».
Quem se corrigisse de forma tão automática não era com certeza um fazedor de inimigos… o mauzinho! Porque se não há rapazes maus há decididamente pessoas grandes a quem o cognome se aplica, por muitas atenuantes que possam ter, mas isso é lá com o Altíssimo no dia do Juízo Final. Mas…bolas! Este post é para saber fazer inimigos e viver com eles, por isso esqueçam os últimos parágrafos e tenham a coragem de assumir hoje mesmo que têm um inimigo, e querem mais é que ele se FODA! É a primeira vitória…



str8splash blogged on 16.8.05

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{11.8.05 . little boy}

Foi à 60 anos que os americanos lançaram a sua 2ª bomba atómica sobre a cidade japonesa de Nagazaki, que conduziu à rendição do Japão. Apenas 3 dias antes eles tinham lançado a 1ª bomba, baptizada de Little Boy (rapazinho ou menino), sobre Hiroshima.
O número de mortos ainda hoje permanece incalculável: muitos milhões morreram na altura e muitos ainda hoje morrem por causa de tal bomba.
Oppenheimer um físico de origem alemã, e que tal como Einstein era judeu, foi um dos responsáveis pela criação da bomba. Alguns dias depois do holocausto nuclear, ele redigiu uma carta à ONU em que afirmava ser de extrema necessidade um controlo efectivo sobre o uso de engenhos nucleares e termo-nucleares. Este cientista, dizem os que com ele privaram, nunca conseguiu digerir muito bem a morte de milhões de inocentes, embora o uso da bomba por parte do exército americano fosse uma responsabilidade puramente governamental.
Einstein produziu na época este comentário sobre o sucedido:

« Só existem duas coisas que são infinitas: o Universo e a estupidez humana! E quanto ao Universo eu não tenho a certeza absoluta.»

Pensem nisto.


str8splash blogged on 11.8.05

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{8.8.05 . STOP!}

Enquanto o telemóvel arrefece no lugar do morto, a noite diz-me que estou atrasado. O pé no acelerador não cala o ponteiro, eu sei!… eu penso: o risco é um lugar-comum na vida, mas há quem não o pise e viva permanentemente do outro lado da linha, onde quer que seja, onde habita o risco.
A história de sempre. De fora a metade anjo com aquelas duas amêndoas no lugar dos olhos e um íman no sorriso e quem me dera que não. Dentro daquele sorriso há um corpo de peças dispersas, de fobias escondidas, medos enterrados em álcool e desenterrados em atitudes loucas porém fugazes.
Quanto mais a estrada fica para trás, mais escuro me parece. O carro a guinchar que puxo demais por ele, e a cabeça sofre uma insónia e dói-me qualquer coisa do lado esquerdo do peito, qualquer coisa que também guincha. Puxo demais por mim, e penso: na maioria das vezes paramos porque nos obrigam, e se eu parar quando me obrigam a correr?

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str8splash blogged on 8.8.05

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{5.8.05 . um blog por segundo}

Cerca de 80 mil blogs são criados diariamente na internet, segundo o site de busca de blogs Technorati. Isso significa que um novo blog aparece quase a cada segundo na rede.
No relatório State of the Blogosphere, divulgado esta semana, o Technorati afirma que o número de blogs, diários online ou websites onde as pessoas divulgam as sua opiniões, quase duplicou nos últimos cinco meses e já ultrapassa os 14,2 milhões. Em Março de 2005, esse número era de 7,8 milhões.
De acordo com o Technorati, a tendência que vem sendo observada é que a quantidade de blogs practicamente duplica a cada 5 meses, quando as análises são feitas.
O site de busca de blogs observa o que acontece na blogosfera por meio de palavras-chave e códigos inseridos pelos bloggers nas sua páginas.
O relatório também diz que 13% dos blogs são actualizados pelo menos uma vez por semana, e 55% dos bloggers continuam a escrever nas suas páginas depois de 3 meses, o que caracteriza o número de blogs considerados activos.
A percentagem de blogs activos tem sido mantida constante com o tempo. Em Novembro de 2004, também eram 55% os blogs actualizados 3 meses após a sua criação.
O Technorati salientou ainda o crescimento dos moblogs, blogs que são actualizados com tecnologia móvel (como por exemplo, telemóveis) e também dos blogs publicados fora dos Estados Unidos.
Tudo isto é impressionante e demonstra que não se trata de uma mera moda passageira: os blogs vieram para ficar!


str8splash blogged on 5.8.05

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O que uma pessoa faz para ser original! Paciência.







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