{27.2.05 . no meio deles...escrevo.}

Porque escrevo aqui? Para quem?

Estou aqui deste lado e não sei responder a muitos dos porquês que me colocam. É estranho estar aqui a escrever. Estar aqui e não se estar, é difícil de explicar. Sei que estou deste lado porque o teclado do computador me olha de forma sedutora. Quando lhe toco com as pontas dos dedos suadas, ele brilha.
Tenho aquela nítida, incómoda e inexplicável falta de espaço, de tempo. Falta de tudo, e eu mesmo me falto por vezes. Não estou aqui nem ali, nem sei bem a qual dos lados pertenço.
Gosto do calor da discussão, dos nervos à flor da pele. Sou um homem ( pelo menos assim o diz a a chapa de metal colocada por cima da porta do wc onde entro, de vez em quando). Quero ser estimado e esforço-me muito por estimar os outros. Mas é difícil.
Por aqui abundam muitos "pardais". Gostava de pegar numa pistola e PUM!...matá-los. Exterminar esta praga de sonsos que se acham no direito de ser medíocres sob um manto de liberdade que lhes foi oferecida. Todos os dias eles chegam, e em bandos. Há por aqui quem lhes ofereça guarida e roupa lavada, e outros que lhes dão brindes, pequenos reparos de cultura, miminhos de mordomo sob a forma de bolinhos.

Acordei. Sabem como é quando se acorda de um sonho bom. Permanecemos entre os lençóis à procura do sono, e ele começa a ficar cada vez mais longe. Ficamos depois sem sono e sem sonho. Quando isso me acontece, penso muito.
Eu sei que as palavras são enganadoras. São como pedras muito escorregadias nas quais por vezes eu tropeço. A angústia de quem escreve, é a mesma de quem escorrega e cái.
Apesar de tudo continuo a escrever. Nunca deixarei que me tirem a "pistola". Continuarei a premir o teclado. Posso sempre pensar que ele é uma porta para saír daqui.


str8splash blogged on 27.2.05


Uma voz longe de um corpo


corpo: não me habites;
eu não estou pronta
para a densa seriedade que tu exiges.

A Voz.


str8splash blogged on 27.2.05

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{23.2.05 . mensagem aos leitores/as}

Foi de forma deliberada que eu não coloquei um espaço de comentários neste blog. Estava longe de imaginar uma afluência tão grande. Na impossibilidade de responder a todos (embora já tenha dado para perceber que o público feminino é quem mais lê estas linhas) cá vai:
Obrigado pela força e coragem que me transmitem, mesmo não concordando comigo em muitas ocasiões. Obrigado por terem tornado o acto de ler o meu mail, num acontecimento penoso: o que dantes demorava meia-hora, agora estende-se por um tempo indeterminado. Obrigado pelo carinho e até pelas "bocas" que por vezes mandam.
Uma palavra para aquelas leitoras especiais que vêem pequenas provocações em tudo: continuem a sonhar! Esta história é para vocês:



str8splash blogged on 23.2.05


"Homem completo é aquele que age como homem de
pensamento e pensa como homem de acção."
BERGSON

Escrevo estas linhas após a direita portuguesa ter sido esmagada nas eleições legislativas. Não me afirmo ideológicamente como sendo de direita no seu sentido mais puro, prefiro dizer que sou de centro-direita. Não sou ideológicamente autónomo e isolado. Considero que existem diferentes caixas e eu prefiro a do nacionalismo revolucionário. Se calhar hoje em dia quer dizer rigorosamente nada. Para mim, significa que aquilo que me separa das direitas tradicionais é eu achar que a história dos povos é feita de revoluções. Revoluções essas que não são só benéficas, como muitas vezes, necessárias. Depende de saber que tipo de revolução; há revoluções boas e más.
Grande parte da direita portuguesa e internacional considera que as revoluções são, essencialmente, o contrário daquilo que deve ser a vida normal de um Estado. Eu acho que as revoluções, integram não só a normalidade de um Estado, como muitas vezes a necessidade nacional. Há logo aqui uma grande área de divergência.
Por outro lado, o nacionalismo. Há uma grande parte da direita portuguesa que, por essência, é internacionalista. Por exemplo, a direita liberal, ou então está a contradizer-se nos termos. Sou nacionalista, mas o meu nacionalismo tem que ser definido logo à partida para que não haja confusões. É uma forma de afirmação política do que eu considero ser o povo português. Entre o nacionalismo e o povo português não há nenhuma distância. Para mim a Nação é o Povo e o Povo a Nação. Eis outra divergência com a direita nacional, para o qual, mesmo que o povo português acabe, a nação portuguesa continua. O protestantismo político é a doutrina da maior parte da direita portuguesa, é a direita da predestinação: Portugal está predestinado a viver e, mesmo que os portugueses não queiram, existirá sempre. Não há portugueses, há Portugal.
Ao longo dos anos ganhei um muito maior cepticismo (cinismo até!) quanto à possibilidade de um movimento sózinho poder regenerar a vida nacional. Não acredito que moralizar a vida pública, transformar a economia num sentido que consideraria benéfico, afirmar a cultura portuguesa, possa ser feito através de um movimento de militantes, que se reúnem às escuras e até altas horas, bebendo whisky ou água do Luso, para planear a salvação da Pátria. Já acreditei que a Pátria poderia ser salva através de vinte crianças, quase, bem intencionadas. Hoje tenho imensas dúvidas, mas considero que existem causas que merecem acção directa. E quando digo isto, estou a medir as palavras e quero mesmo dizer Acção Directa.
Para mim as afinidades culturais sempre foram mais importantes que as divergências ideológicas. Sempre foram. Se virmos bem, excepto a questão de saber o que fazer a seguir à revolução, o que fazer em relação a África e exactamente qual o modelo de Estado português, é que foram questões essenciais. A questão africana foi para mim, talvez a única essencial para a Nacionalidade. Fora isso, acho tudo o resto extremamente acessório.
Assim termino este desabafo ideológico. Espero que alguns me tenham a ficado a conhecer um pouco melhor, ideológicamente falando, claro.


Apenas mais uma coisinha :
O homem completo de que fala Bergson, provavelmente, é muito mais do que isso. Ficará para os meus amigos e aqueles que são mais próximos de mim, perguntar se sou ou não esse tipo de homem. Tento fazer os possíveis para o ser. Não sou indiferente aos problemas do meu tempo. Sou incompletíssimo em muitos aspectos, no entanto, continuo a descobrir um grande prazer em coisas novas. Quando deixar de me entusiasmar com um projecto, uma teoria ou um problema que surgir pela frente, aí sim, estarei irremediávelmente a entrar para a "box".


str8splash blogged on 23.2.05

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{20.2.05 . sinal dos tempos}

Parece que as máquinas estão a fornecer inteligência ou pelo menos a distribuí-la. Há pouco tenpo, um computador, usado em experiências de inteligência artificial, resolveu, por iniciativa própria, assinar uma petição para a libertação de Jose Bové. Uns meses antes, uma alta patente do Pentágono disse que convinha que "as armas fossem inteligentes, porque os militares não eram". A velocidade de expansão desta nova forma de "inteligência" faz prever um mundo diferente quando todos nós estivermos ligados à rede. Será que quando esse dia chegar, formaremos uma inteligência colectiva, ou estaremos sózinhos em frente do monitor?
Naveguei pelos blogs que aleatoriamente me foram aparecendo. Meia hora, uma hora talvez. Já tenho o perfil da maioria. Mulheres na casa dos 30 anos, muitas divorciadas, muitas desesperadas, a maior parte delas fúteis, homens que trabalham em jornalismo, ou têm a pretensão de vir a trabalhar, literatos frustrados e adolescentes com problemas existenciais. E pouco mais.
Num blog existem mais provocações ao intolerável do outro, que à própria consciência do nosso próprio intolerável. Nesta medida, e até ver, os blogs têm pouco de literário. Com excepção de alguns posts, sem surpresa, os que mais entram em cada um de nós e se aninham dentro daquilo que somos.
Numa sociedade individualista e ao mesmo tempo numa era de globalização como a nossa, avizinham-se tempos difíceis para a experiência do "real".



str8splash blogged on 20.2.05

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{17.2.05 . o eterno feminino}

Dois belos poemas escritos por uma mulher.
Espero que gostem.

de quando desisti e caí na vida

não quero mais aguardá-lo
Guardá-lo com honras de único rei

Não vou mais dizer loas
Mandar notas
Não quero fazê-lo verso
Este é o último
E o primeiro.
Príncipe imaginário,
Não quero vivê-lo


trágica

meu galego
não conhecia minha ira

era dono do meu corpo
meu espírito de porco

sabia minha ginga
minha pletora, minha míngua

conhecia cada fresta
cada trinca, cada aresta

cada vinco, furo, fissura,
mau humor, amargura

mas da minha ira
condenada ira
ira de maldita

ira de mulher
fêmea exata
ana saliente
uterina, enfezada
ele não sabia nada

A autora é Ana Elisa Ribeiro e além de excelente poetisa, esta mineira é também autora de um lindo blog:


str8splash blogged on 17.2.05


O acto da escrita é visto, ainda hoje, como algo de romântico, mas quem se habituou a ver na escrita uma actividade metódica e a materializa em livros, cartas, ensaios ou meras anotações do quotidiano, sabe que o início de um texto não começa nunca numa folha de papel ou no monitor do computador. Pode começar numa paisagem, numa atitude, num acidente... Isso não diminui a intensidade do que se escreve nem o que se pretende atribuir a uma determinada vivência posta em palavras, mas tira ao texto o carimbo "sagrado", o peso que por vezes o torna inacessível ao leitor que respira.
A erosão do romantismo na escrita pode resultar, em alguns casos, na desconfiança do leitor perante as intenções de quem escreve. O escritor sabe sempre como prostituir os seu objectos em função de um objectivo. No entanto, quem escreve tem também a opção priveligiada de poder ser honesto. Admiro todos aqueles que se dão a conhecer através da palavra escrita, mas admiro ainda mais, aqueles que sabem respeitar o que os outros escrevem. Basta de tanta intolerância e mesquinhez!


str8splash blogged on 17.2.05

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{13.2.05 . e a luta continua}

- Amo-te.
- Se me amares talvez eu te ame.
- O meu amor é independente da tua receptividade.
- O amor não pode ser unilateral.
- Preciso que me amem.
- Se me amares, talvez eu também te ame.
- Não consigo amar como se fosse um negócio.
- Não consigo amar alguém que não me ame.
- Só queres ser adorada. Todas as mulheres querem ser deusas.
- Só queres ser admirado. Todos os homens precisam de se sentirem heróis.
- Não precisas do meu amor.
- Eu ía dizer isso.
- Odeio-te.
- Desprezo-te.
- O ódio é mais forte que o desprezo.
- Mas o desprezo magoa-te mais.
- Só somos magoados por aqueles que amamos.
- Só somos magoados pelo nosso amor.
- Era uma pergunta?
- Não! Acho que não.
- Não saberia o que responder.
- Limitei-me a concordar contigo.
- Nunca tenho a certeza das minhas afirmações.
- E no entanto continuas a fazê-las.
- Quero que me ouçam. Quero ser amado.
- Gostas de ouvir-te. Queres ser admirado.
- Já disseste isso.
- Incomoda-te a repetição?
- Sim. Não é evolutiva.
- Acho que te conseguiria amar.
- Só amas a luta.
- Tu também.
- ...
- ...


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{12.2.05 . depois da inocência...}

Ainda me lembro daqueles tempos...
Nunca vira um penso higiénico. Só pouco depois soube que as mulheres, ao contrário dos homens, não têm que decidir se vão fazer xixi ou cócó quando vão à casa de banho: simplesmente sentam-se e esperam. Não sabia se os soutiens se mudavam todos os dias como as cuecas ou eram reutilizáveis. Nunca tinha pensado que elas provávelmente não andavam de conjuntinho. Não sabia se dormiam de barriga para baixo ou se isso lhes estragava as maminhas. Nunca soubera como usavam o bidé. Reparei uma vez que as meias que usavam eram realmente muito pequeninas, era espantoso. Vi-as com livros e não sabia porquê, mas tinha a impressão que demoravam muito a lê-los. Por sua vez raramente via um rapaz a ler.
Não percebia porque é que gostavam de homens sem músculos nem porque preferiam um gajo em calças de ganga a um que aparecesse nú. Não tinha pistas sobre o que as levava a serem simpáticas, se era apenas charme ou se escondiam segundas intenções atrás dos seus gestos. Nunca entendia se gostavam de mim...
Depois...bem,depois nunca mais se pára de tentar conhecê-las melhor.



str8splash blogged on 12.2.05

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{9.2.05 . guerra dos sexos}

Detesto o buraco que se cava entre homens e mulheres. É normal tomar como assunto num qualquer grupo onde se encontram reunidas as duas facções da nossa raça o tema da "guerra dos sexos".
Invariávelmente só se fala dos defeitos e raramente se toca nas virtudes. Quando estas são abordadas, normalmente é pela boca de um homem. O homem malandro tentando impressionar a fêmea com o seu mel, o lobo na pele de cordeiro. Podia ser assim o seu discurso:

Uma mulher sabe muito. Sabe dos homens e das mulheres. Os homens nem deles próprios sabem, mas uma mulher sabe. Eu só sei um pouco da vida, da noite, do cheiro e das águas. Sei da águas. Só se aprende uma coisa de cada vez nas águas, mas se não aprendes jamais voltas a aprender, porque as águas são mulheres só de uma vez, sem possibilidade de retorno. Não é mentira! Aliás...a mentira nas mulheres não existe por exemplo. A mulher inventa verdades, aquilo que deve ser verdade. Nem toda a verdade o é, mas tudo pode ser mentira se não acreditarmos nos seios que correm da boca das mulheres. São esses seios que alimentam o mundo, sem verdade nem maldade ou a mentira dos homens.

(NOTA: Para uma mulher talvez seja fácil entender o conceito da última frase, mas um homem precisa de uma pista: pensem numa mulher linda na vossa frente,com um decote até ao umbigo que deixa antever uns portentosos seios...É a verdade que sái da sua boca, não é verdade? )


Os homens acrescentam, adicionam, nem que para isso preguem, firam e matem. Os homens não percebem as formas do mundo. Os homens só as desconfiam quando estão perto de uma mulher (no seu colo de preferência!), apercebem-se então de como algo encaixa nas suas mãos sem ferir, sem doer...mas quando os homens ferem, os homens doem. Os homens não medem a intensidade dos seus actos, praticam-nos e desfilam depois os olhos pelas consequências...

(NOTA: Não têm muito crédito estas palavras. Sou homem! E afinal de contas, os homens nem deles próprios sabem. Elas é que não precisam de ficar a saber. )


str8splash blogged on 9.2.05

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{8.2.05 . um amigo é assim...}

Um amigo é alguém com quem aprendemos. É alguém que gostamos de ter por perto e com quem nos sentimos bem, e é sobretudo uma pessoa que aprendemos a admirar. Um verdadeiro amigo não pede licença para entrar em nossa casa nem precisa de se despedir quando a deixa. O Mike é assim: é um amigo!
Havia muito para falar dele, mas não acho que ele fosse achar muita piada a esse facto, uma vez que sempre foi muito low-profile. O Mike viajou ontem para a Tailândia. Não! Não foi ajudar as vítimas do tsunami nem foi de férias em busca de sexo nas ruas de Bangkok ( acho eu!), foi em busca de um sonho. Aquele sonho que move qualquer ser humano. Ser feliz!
Para ele e para a Nanta eu desejo tudo de bom.
Um grande abraço para ti seu manganão. E não te esqueças do que prometeste para daqui a 6 meses.
Este é o Mike. Um amigo é assim...



str8splash blogged on 8.2.05

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{3.2.05 . definições}

"Tenho a impressão estranha mas feliz
de que sou a raíz dolorosa e obscura
de uma árvore pujante em cujos ramos
cheios de orvalho ou pranto
dois ágeis passarinhos encantados
soltam lá de cima a voz e, saltitantes,
riçam as penas, festejando a VIDA."

Tom Jobim

O vida é como uma mulher, julgo eu - todos nós não passamos de pescadores contando histórias sobre o peixe que nos escapou.
O amor e o desejo têm uma geometria triangular. A língua do desejo é bifurcada: pode beijar dois opostos e amar apenas um. O amor traça linhas entre nós como um astrónomo desenha uma constelação a partir das estrelas, ligando entre si pontos que formam planos que não têm qualquer base na natureza. O vértice de qualquer triângulo transforma-se no coração de outro, até que a realidade se transforme numa teia de relações amorosas. Juntando todas as teias, temos uma enorme rede a que eu chamo de amor. Só assim se explica que o amor é de facto o pescador perfeito, o que lança a rede maior, a que nenhum peixe escapa. A sua recompensa será um dia ficar sentado sózinho na areia da praia contemplando o mar, um eterno rapazinho no meio dos homens, esperando poder um dia contar uma história: a história daquele peixe que lhe escapou.

Acabará minha estéril história
que a si própria se liga por dentro:
a vida, o nome, a minha memória,
gravados fundo no esquecimento.

canção índia da tribo QUICHUA


str8splash blogged on 3.2.05

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O que uma pessoa faz para ser original! Paciência.







EmilyStrange.com