{31.3.05 . dedicatória}

Este post é dedicado a todos os meus amigos que se sentem tristes pelo facto de já terem completado 30 voltas completas ao sol.

O almirante Bird foi o primeiro homem a hibernar sózinho no Polo Norte. Certo dia saíu da sua cabana em plena tempestade de neve e como a porta abria para fora, não conseguiu mais entrar, pois a cobertura de neve e gelo era enorme. Foi salvo por uma equipa de socorro que estranhou o facto de ele não comunicar através do rádio. Já em segurança e no quentinho do seu lar ele disse:


" deixei lá o que me restava de juventude e presunção."


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Não é necessário passar pela experiência deste aventureiro para perceber que não é coisa que se queira perder.

( a foto é do filme The Big Lebowsky. Para quem já viu...sabe do que estou a falar. E já agora em plano de fundo, Bob Dylan canta The Man in Me.)


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{25.3.05 . desabafo}

Há coisas de que gosto tanto, que me apetece fugir delas.
Mas é pena, porque depois acabo por perdê-las quando as queria.


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{19.3.05 . post-it}

Sinto que algo de errado se passa na forma apressada como as pessoas vivem. Porque correm elas? Sabem para onde vão? Têm medo de chegar atrasados ao seu rendez-vous com o destino? Não entendo.
Será que vale a pena viver de forma apressada, deixando escapar aquelas pequenas coisas. Aqueles momentos que nos fazem sentir bem, e ao mesmo tempo pequenos, perante a realidade de uma existência tão fútil e efémera. Estamos todos de visita neste pequeno globo que habitamos. Vamos com calma. Respirem.
O que escrevo é para mim também. Este post é como um post-it amarelo colado na porta do frigorífico: só reparamos nele quando vamos buscar cerveja.
Não importa. Ele está lá. Sabemos que é verdade,não damos muita importância, mas se alguém o tira do seu lugar...
"-Quem tirou daqui a merda do papel amarelo?"
"-Fui eu pá! Sem stress, ele estava aí à tanto tempo que pensei..."
Nessas alturas penso para dentro: "-Desde quando é que tu pensas?"
E continuo a correr para não chegar atrasado.

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{18.3.05 . fugir daqui, ficando cá}

O que fazer quando surgem as questões verdadeiramente importantes, os problemas que não têm (nem devem ter) solução?
Qualquer português minimamente decente já se deve ter confrontado com as 4 perguntas irresolúveis, a saber:

1. Quem somos?
2. Para onde vamos?
3. Deus existe?
4. Em caso afirmativo, expliquem-nos Fátima.

Não é fácil, nem é possível. Sobretudo a resposta à última.
Tudo se complica, porque nos vem à memória o nosso Primeiro-Ministro, a maioria que votou nele, o Carlos Cruz e o Bibi, o Sporting...em resumo, Portugal. Por isso, fugir para outro país faz bem. A melhor maneira de fugir daqui sem mudar de sítio (porque é caro) é beber álcool. Afinal de contas, por alguma razão somos os primeiros no que toca ao seu consumo.


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{11.3.05 . era uma vez...}

Não resisti. Esta história é tão bonita que me vi tentado a partilhá-la com vocês. Espero que o Luis Filipe Borges não leve a mal e que me perdoe.

O gajo

Vou-te dizer porque é que ele não dá sinais de vida. Está apaixonado. É uma história que vale a pena. Vou-te contar como ele me contou. Em sete partes. Porquê? Foi ele que me contou. Sabes como ele é com os números. São sete capítulos. Como nos 7 pecados mortais, 7 sacramentos, 7 cores do arco-íris e 7 colinas de Lisboa. 7, o número preferido do gajo.

O momento

À que tempos que ele olhava para uma colega de faculdade. E estava lixado. Tímido, reservado, metido consigo, incapaz de engatar numa discoteca. Incapaz de engatar ponto. Mas onde é que tudo aconteceu? Numa discoteca! Ele está num canto, a dançar sózinho. Sim, como sempre. E então ela vem. E esta miúda, meu, não é daquelas com que temos fantasias. Toda ela é uma fantasia. Ele não sabe o que achar, o que dizer, pensa que ela não tem relógio e quer perguntar-lhe as horas, pensa que está com os copos- ela, não ele (ele, se estivésse, tinha acabado de ficar sóbrio). E ela vem, sensual. Tem uma daquelas t-shirts coladas ao corpo e que dizem "pornstar". Sim, ela era dessas. Pede-lhe lume. Diz que há muito tempo que repara nele na faculdade. Ele engole em seco, depois bebe, depois engasga-se, depois deixa cair o copo e quase escorrega nos vidros. Ela ri-se. Diz que se sente atraída pela sua timidez. Leva-o para o meio da pista e, sem quase ter dito uma única palavra, ele deixa-se beijar por ela. É o momento da vida dele.

O sonho

Ela chama-se Ana. Foda-se, chama-se "Ana". O que é que tem? É um nome banal? Pois é, mas não é propriamente "Maria". É ANA, caraças! É perfeito, é melódico, é puro, é uma capicua, é um nome que existe em português, em espanhol, em francês, em inglês, em alemão e sabe Deus em que mais línguas.
E passa com ela o melhor mês da sua vida. Isto é o que ele diz, e escuta-me, quando o gajo fala desse mês parece que brilha. Ainda não percebes o que tem a história de especial? Tranquilo, vou já deixar a parte do sonho.

O imbróglio

Um belo dia, e esta é a minha parte da história, combino um jantar em minha casa. Sim, aquele em que não estavas cá. Epá, a malta já não o via há que tempos. Grande festa e calduços e "o que tens feito, meu?". O gajo diz que vive a sua primeira verdadeira história de amor. Ok, calma, eu passo à frente os preliminares.
Foi assim: jantar de gajos, muita cerveja, ele a dizer que ainda não nos apresentou a miúda porque não deu e que ela está a trabalhar naquela noite. O que faz ela? Trabalha numa loja, diz ele. Sorriso de orelha a orelha. Vamos para a sala. Acabamos de ver a bola e eu começo a fazer zapping e a malta começa a gritar "porno", "porno", "porno"! Tás a ver, não é? Ponho no canal e o gajo fica branco e gagueja. Ainda lhe digo, a rir, que está à vontade para ir à casa de banho mas que, por favor, não o faça à nossa frente. Toda a gente se parte a rir. O gajo chora.

O sofrimento

Ela era actriz porno. O nome não era Ana, claro. As Anas dos filmes normais são princesas ou freiras. Uma gaja destas tem sempre um nome artístico com K's, e muitos N's e Y's, não é? Assim, duas palavras sonantes e que puxem logo a tusa a um gajo. E melhor: fui pesquisar na net e ela é uma das maiores! Famosa pelas formas, pelas habilidades e por não fazer sexo anal. Porquê? Sei lá porquê. Porque é diferente. Todas fazem e ela não. É como um gajo não ter telemóvel nos dias que correm- até chega a ser chique.
Bem, o nosso mano ficou na merda. Saiu lá de casa num repente e só soube dele ontem. E foi então que me contou o resto da história. Encontrou-se com ela e acabou tudo. Não quiz saber das lágrimas e das explicações, "que não lhe podia contar", "não sabia como ele ia reagir", por aí fora.

O fim?

Se não a tentou convencer a deixar o porno? Se estava assim tão apaixonado...Não foi preciso. Ela puxou o assunto. Disse que era a sua vocação, o seu corpo, o seu dinheiro. Sim, muito dinheiro. Que ter tido receio de lhe contar não era sinónimo de ter vergonha do que fazia. Bem, nesse ponto, ele diz que para não chorar à frente dela ou bater-lhe, desapareceu. Não a viu durante dois meses, tempo em que nem sequer foi à faculdade.

O amor

Mas não a conseguiu esquecer. Começou a alugar os filmes dela, numa cena doentia. Pois, se calhar. Sei lá, já estivéste numa situação destas? Mas diz-me ele, ontem, que chegou a ter uns 20 filmes da gaja- sim, porque os gravava. E percebeu o que eu te disse à pouco. Ela fazia de tudo, mesmo tudo, menos anal. para ele era indiferente, diga-se, que o gajo masturbava-se à mesma. Não te rias.
Agora a bomba. Anteontem, 24 horas antes de o encontrar, a miúda aparece-lhe em casa. Ele percebe que ela está maquilhada e que, muito provavelmente, veio directa de uma gravação. Não consegue deixar de ter ponta só de pensar nisso. E cora- cada centímetro de pele. Não sabe como reagir e diz-me que- por muitos anos que viva- nunca conseguirá esquecer aquela imagem. Uma actriz porno, à sua porta, com a maquilhagem esborratada pelas lágrimas, a pedir-lhe para entrar.
Segundo ele, passaram uma hora em silêncio, na sala dele. Ela a olhar para as cassetes que ele gravava e o gajo a olhar para os próprios pés.
E agora, meu amigo, presta atenção. Uma silenciosa hora depois, ela levantou-se, chegou-se à frente dele, e jurou que lhe diria algo que jamais havia dito a alguém. Ele balbuciou: "O quê?"- e esta é, segundo o nosso sorridente amigo, a mais sincera declaração de amor que escutou na vida:
- Enraba-me.

Digam lá que o amor não é lindo.


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TRIMMMM...(na realidade é uma música qualquer, mas isso agora não interessa!)...ZÁS!...(silêncio).
Maldita coisa! Um frio de rachar e um vento nojento lá fora, e esta coisa...(bocejo).
Marcha lenta e tropeçante até à casa de banho. Xixizinho e mais qualquer coisa. Ligo o rádio. Fico a saber que posso ganhar uma viagem a N.Y. se fizer um video alternativo para uma música...(corta!).
A água já corre no lavatório. Tiro a sweat-shirt. Humm! Mamilos espetadinhos logo pela manhã, que bom!- Então matulão? Estás contente por me ver? Não és nada de se deitar fora, não senhor. Mas eu gosto mesmo é de gajas.
A lâmina faz o seu trabalho no meu rosto. -Não és como eras. Ninguém parece notar essa barriguinha a despontar. Um prenúncio de bochecha descaída que serve um sorriso perante as "coisinhas".
-Ainda tens os vestígios da pele que foi em tempos infantil. Uma pele exposta a uma vida ainda por entrar. As merdas que me vêm à cabeça.
Dispo-me e entro na banheira. Adoro o choque com a àgua quente que me cospe em cima. Canto umas coisas de gosto duvidoso e rio bastante.
-Merda! A toalha de banho ficou esquecida na porta. Lá vou eu todo molhado buscá-la. Em que rico estado eu deixo o chão: -Grandes patas que tu tens matulão!
Caminho até ao quarto. Não me é difícil escolher o que vou vestir. Mas o calçado...
Lá fora o frio é maior do que eu pensava. A pele da minha cara tem apanhado demasiado vento. O mesmo vento que trabalha as paredes das montanhas, o vento que apaga a beleza das coisas. O vento na minha cara...


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{6.3.05 . brincriando palavras}

João Guimarães Rosa e Mia Couto são dois autores que conseguiram criar uma gramática muito própria. A vida é possível de ser vivida em permanente estado de poesia. O importante é a comunicação expressiva do ser humano com o seu semelhante.

São deles estas brincriações:

matatempo, desastragadamente, raivanando, desalegria, sozinhidão, copoanheiros, combeber, esquisitâncias, coisinhiquezas, timidejante, sentimentiroso, tãotanto, despercebendo, fraternuras, encrocodilar-se, pedinchorava, nuventania, rés-do-céu, pensageiro, sonhambulante, desinventar, gesticalado, ...

E as expressões (expressonhos?):

em bicos de sonhos; infelicidade é questão de prefixo; todo o abismo é navegável a barquinhos de papel; tão claro como água suja; passou-lhe o nada pela cabeça; a desunião faz as enormes forças; a vida são coisas muito compridas; foi de ziguezague, veio de zaguezigue; todo o mundo tem onde cair morto; nem alegre, nem triste, apenas o oposto; a toda a hora há moribundos nascendo; distrair saudades; acordar no tremeclarear; um silêncio quase calado; espantar-se de boca a orelha; não ter onde cair vivo; maldito e feito; não ter querer nem ser; pelo sim, pelo talvez; ...

Há que escreviver a nossa Língua.


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{5.3.05 . um filme...}

Hoje quero falar-vos de um filme...Chungkin Express.
Pelas ruas apinhadas, quartos apertados e bares solitários de Hong-Kong deambulam histórias de abandono, tristeza e amor. São pessoas iguais a tantas outras, mas são também misteriosas e únicas, com algo especial para nos revelar. Desde paixões por ananás em lata, peluches, músicas em altos berros e hospedeiras de bordo, há de tudo. O motivo, esse, é sempre o mesmo: encontrar um rumo, se possível ao lado de alguém.
Drama, mistério e romance pleno de ironia, amargura e esperança; o filme possui já o seu lugar de destaque e por lá permanecerá por muito tempo. Porque a sua mensagem, feita das várias que sucintamente as personagens nos vão oferecendo, é pura e comovente, acima de tudo inspiradora: os revezes na vida de cada um acabam sempre por acontecer, mas nunca para sempre...

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"Se a minha memória dela tiver data de validade, que expire só daqui a 10.000 anos... "


Duas histórias em paralelo e com um ponto em comum, um pequeno snack-bar onde os seres solitários vêm pedir cachorros, pizzas, saladas, colas e fazer uns quantos telefonemas.
Pelo meio temos dois polícias que nos ensinam várias técnicas de sobrevivência. Um prefere correr para não ter de chorar, porque desse modo esgota e seca toda a água do corpo; O outro segue uma vida regada de memórias recuperadas a toda a hora e deixa o choro para a própria casa, enquanto vai falando com panos do chão e peças de roupa...
Por mais vezes que se veja o filme haverá sempre alguma coisa a retirar dele que não se tinha notado da última. O cruzamento das várias personagens nos mais variados cenários é apenas uma parte do jogo que se vai descobrindo. E o momento desses encontros fugazes não são despropositados...
Este magnífico filme não tem linha definida, o trajecto passa rente a coincidências que nunca o parecem ser por acaso e o cartaz para onde todos olham, de dia ou nos seus sonhos, repete-se: a paixão, o amor, a fuga à solidão, a partilha.
Imagens em cores vivas, cruas e quentes que são postais ilustrados e quadros vivos. E os pensamentos das personagens masculinas a repousar nos silêncios maravilhosos e misteriosos das mulheres que ambicionam, tenham elas óculos escuros e revólveres ou simplesmente uma mala e um bilhete de avião.
A cada 10 anos aparece um filme assim.




str8splash blogged on 5.3.05

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{1.3.05 . o buraco}

Notícia extraída da última página de um jornal diário:

" Dois dos detidos de uma prisão turca foram condenados ontem a passar mais 4 meses encarcerados por terem feito um buraco na parede que separava as suas celas, o que permitiu viver um autêntico idílio até que foram 'denunciados' pelo nascimento de uma criança. Seylan Corduk, de 40 anos, encarcerado por assassínio na prisão de Kartal, em Istambul, e Kadriye Fikret Oget, de 27 anos, detida por ter colocado uma bomba no mercado da cidade, fizeram, em Julho de 2002, um buraco de 9 centímetros na parede de betão que separava as suas celas, através do qual mantiveram, durante meses, relações sexuais, das quais resultou o nascimento de um bebé, em Abril de 2003. Foram agora condenados a mais 4 meses de prisão e a 42 euros de multa por 'degradação do património público".


Palavras para quê?

( a título de curiosidade, as notícias ao lado desta eram bastante sugestivas: iate holandês encalhou junto a porto das Flores, e... próximas noites vão ser mais frias.)


str8splash blogged on 1.3.05

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O que uma pessoa faz para ser original! Paciência.







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